segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Composições de Lygia Fagundes Telles

Geórgia Pereira, Acadêmica de Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina - UEL.


Maestrina ao abordar os sentimentos humanos, Lygia Fagundes Telles revela o interior de seus personagens como uma música: compõe as melodias doces no andamento adágio, quando quer ser lenta e minuciosa nos seus detalhes descritivos; allegro quando quer revelar sensações de felicidade e êxtase interior de suas figuras; ou andante, bem compassado, que inebria e prende o leitor até o final de suas narrativas. “Apertou os maxilares nua contração dolorosa. Conhecia esse bosque, esse caçador, esse céu – conhecia tudo tão bem, mas tão bem! Quase sentia nas narinas o perfume dos eucaliptos, quase sentia morder-lhe a pele o frio úmido da madrugada, ah, essa madrugada”! Este é um trecho do conto “A caçada”, no qual a escritora suscita a expectativa do leitor até o final do texto, tecendo as inquietações da mente do personagem e conquistando quem lê.

Com o dom de grandes composições literárias e regendo a palavra com tamanha sabedoria, Lygia só poderia ser destaque no mundo das letras. A construção de sua carreira começou em 1938 com a publicação de seu primeiro livro de contos, “Porão e Sobrado”. Tal obra foi incentivada pelo pai, influente advogado do interior paulista. Nascida em São Paulo em 19 de abril de 1923, Lygia Fagundes Telles é filha de Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de Moura. Graduada em Educação Física e Direto, Lygia teve o primeiro contato íntimo com a literatura durante a faculdade, no início dos anos 40. Nessa época ela conheceu ícones como Mário e Oswald de Andrade, além de se aproximar de uma pessoa que se tornaria sua grande amiga, a poetisa Hilda Hilst. Ainda durante esta década, escreve dois livros de contos: “Praia Viva” e “O cacto Vermelho”.

Anos mais tarde, já pelos idos de 50, Lygia assinala sua transição para uma produção literária mais rica e madura, escrevendo o romance “Ciranda de Pedra” publicada em 1954, que inspirou a primeira versão da novela em 1981, e a atual que recebe o mesmo nome. Durante a década de 60, a escritora publica mais um de seus romances, “Verão no Aquário”, e é nomeada procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.

A famosa obra “Antes do Baile Verde” é a reunião de contos escritos entre os anos de 1949 e 1969, mas publicados somente em 1970. A diferença temporal entre eles, esclarece o crescimento da autora e do seu texto ao longo desses 20 anos. O conto, que dá título à obra, ganhou o Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros e revela a postura de Talisa, uma jovem que vai à um baile de carnaval, e deixa o pai em casa a beira da morte. A escritora escancara neste conto a mediocridade do ser humano, que não se compadece com a dor e só pensa em satisfazer os seus prazeres.

Em 1977 Lygia publica outra referência para seu cabedal literário, a coletânea de contos “Seminário dos Ratos”. A obra carrega traços inconfundíveis da literatura fantástica, como o conto “As Formigas” que fala da história inusitada de um esqueleto emoldurado por formigas num quarto de pensão. O conto-título da obra também comprova a composição harmônica da autora para revelar o mundo camuflado da podridão política e burocrática.

Em 1985, Lygia Fagundes Telles é eleita como membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 16, fundada por Gregório de Mattos. Mais recentemente, conquistou o Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura portuguesa brasileira.

Lygia é uma das peças referenciais para a Literatura Brasileira. Com a ousadia de uma escrita intimista e ao mesmo tempo reveladora, ela compôs dez livros de contos, quatro romances, um livro de memórias e um roteiro de cinema, mostrando a pluralidade do seu trabalho e a habilidade quando o assunto é a palavra.

Um comentário:

Luiz disse...

Ótimos textos neste espaço. Muito Bom conhecer este blog!!Voltarei,Rsss