quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

Fabio Alexandre Spanhol, Mestre em Ciência da Computação pela UFSC, Bacharel em Informática pela Unioeste e cinéfilo.


A vida não é medida em minutos, mas em momentos.


Estreou nos cinemas brasileiros, no último dia 16 de janeiro, o “O Curioso Caso de Benjamin Button” (The Curious Case of Benjamin Button, EUA, 2008), dirigido por David Fincher (responsável dentre outros por “Se7en - Os Sete Pecados Capitais”, “Clube da Luta”, “Zodíaco”) e estrelado por Brad Pitt e Cate Blanchett.

O filme foi escrito pelos roteiristas Eric Roth (“Forrest Gump”, “Ali”, “Munich”) e Robin Swicord, inspirado no conto homônimo do escritor Francis Scott Fitzgerald (1896-1940), publicado em 1922. Tal conto, por sua vez, teria sido inspirado em uma citação do escritor Mark Twain: “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”. Várias mudanças foram feitas por Roth e Swicord em relação ao conto original, de lugares, caracterizações de personagens e mesmo o período histórico no qual se passa a história, que fora atualizado. Mas certamente as mudanças evocam um sensível ganho e o filme transcende as pretensões iniciais do conto de Fitzgerald.

Na produção, Brad Pitt interpreta o personagem título, nascido em circunstâncias incomuns”: como um bebê totalmente velho, aos oitenta anos, acometido por doenças típicas da velhice e às portas da morte. Contudo, caminhando em direção oposta dessa porta, rejuvenesce a cada momento que passa, invertendo o ciclo natural comungado por todas as criaturas vivas. Impossibilitado de interromper a passagem do tempo, Benjamin obriga-se a seguir sua jornada de descobertas externas e principalmente interiores, conhecendo lugares e amargamente acompanhar as pessoas que ama envelhecerem e partirem.

Claramente a estrutura narrativa, permeada de passagens históricas vistas pelos olhos dos protagonistas, remete a Forrest Gump, outro trabalho do roteirista Eric Roth, que novamente mescla drama, aventuras e leves pitadas de humor.

A trama apresenta como cenário principal a cidade de Nova Orleans. Inicia-se em um hospital no momento da chegada do furacão Katrina e mostra Daisy (interpretada por Cate Blanchett), uma paciente idosa em seu leito terminal, rememorando seu passado para a filha Caroline (Julia Ormond) enquanto esta lê o velho diário de Benjamin Button. Vários e longos flashbacks (rememorações, lembranças) começam a alternar-se com o tempo presente no quarto de hospital, retornando ao final da Primeira Grande Guerra, na casa de um rico empresário, no exato momento do falecimento de sua esposa com o nascimento do filho. O recém-nascido Benjamin, devido à bizarra aparência, é abandonado pelo próprio e perplexo pai na escadaria de uma pensão-asilo dirigida pela negra Queenie (Taraji P. Henson), que acolhe e passa a criar o estranho bebê.

É tocante acompanhar o pequeno e enrugado Benjamin, assistido sempre por sua carinhosa mãe adotiva Queenie, aprendendo a sentar-se, a balbuciar as primeiras palavras, a andar sem o apoio das muletas e interagir com seus colegas idosos do asilo. Todo o contato que Benjamin tem com o exterior é filtrado por sua alma infantil aprisionada em um corpo senil, tolhendo seu ímpeto pueril.

Ainda seguindo a estrutura de Forrest Gump, o protagonista é confrontado com um “amor impossível”: Daisy. No asilo, a criança Daisy visitando nas férias sua avó, faz amizade com o “velho” Benjamin. Os encontros passariam a repetir-se nas férias dos anos seguintes, aumentando a proximidade dos dois. Próximos, mas separados pelo aparente hiato de idade, a menina Daisy envelhece enquanto Benjamin rejuvenesce. Benjamin finalmente rejuvenesce a ponto de sair para explorar o mundo e o faz a bordo de um barco rebocador. Passados lugares longínquos e o tempo, os dois se reencontram: ela vinte anos mais velha, ele vinte anos mais jovem. No seu ato final, temos o amor e o sacrifício de Benjamin, lidando com a dificuldade de amar uma bela mulher deteriorando-se com o passar do tempo enquanto ele fica cada vez mais jovem.

Viajando para diferentes localizações geográficas e períodos históricos, o filme compõe uma fábula sobre a condição humana, a passagem do tempo e a finitude, juventude e senilidade, conquistas e perdas, o amor e seus sacrifícios, decepções e auto-descobertas. Enfim, uma bela metáfora que representa o grande e efêmero mosaico que é nossa peregrinação neste mundo.

Dicas de Leitura:

    1. F. Scott Fitzgerald. Suave é a Noite. Editora Bestbolso, 2008.
    2. F. Scott Fitzgerald. Contos. Editora Casa Jorge Editorial, 2001. (Nesta coletânea há o conto original)

*Publicado originalmente no suplemento especial "Educação" do jornal "O Paraná", edição 461, página 7, 23/01/2009.


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