quinta-feira, 9 de abril de 2009

Isolamento urbano

Geórgia Pereira, Acadêmica de Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina - UEL.


Vivemos em “ilhas urbanas” regidas pela alta tecnologia. Esta, devido a sua inserção, interage com os grupos sociais e afeta as relações interpessoais, de forma que as pessoas podem até conversar mais, mas se vêem menos.

A massificação do dia-a-dia e a falta de habilidade para encontrarmos tempo de reunir os familiares e os amigos intensificam o surgimento do isolamento urbano.

Essa questão está presente num dos diálogos do filme “Crash – no Limite” (2004). O ator Don Cheadle como detetive Graham Waters discute tal problemática ao dizer que em grandes cidades como, Los Angeles, as pessoas se esbarram ao andar nas ruas com a intenção de aliviar a sensação de solidão e isolamento. Obras como o livro “Culturas Híbridas” (1998), de Nestor Garcia Canclini, também provocam questionamentos sobre esse tema: “As ruas tornaram-se saturadas de carros, de pessoas apressadas para cumprir obrigações profissionais ou para desfrutar uma diversão programada quase sempre conforme a renda econômica”.

Muitos, nas grandes cidades, restringem o dia-a-dia ao seu mundo fechado, “num infinito particular” que muitas vezes não deseja alterações. Não é novidade que viver no mundo on-line, de certa forma, favorece tal isolamento. Conectados 24 horas por dia, as pessoas podem comprar, vender, fazer transações bancárias, se comunicar, tudo via internet seduzidas pelas facilidades que ela oferece, sem sair de casa. A comunicação virtual configura um nível de interação diferente do que estamos acostumados gerando alterações nas relações pessoais, criando amigos e namoros cibernéticos, algo cada dia mais comum entre nós.

Perdeu-se a dimensão do que é privado e o que é publico numa sociedade que multiplica as formas de divulgar a vida, nos sites de relacionamento, como orkut, que detalham tudo sobre as pessoas, quando elas querem isso (o que ocorre na maioria das vezes), seja por foto, scraps ou pela descrição do perfil. Sem falar da existência dos blogs, contando acontecimentos e detalhes da vida, com centenas de fotos que ilustram a página. Para Canclini, “a mídia invade de tal forma as relações pessoais, e a cultura urbana de uma forma geral que fica fácil afirmar que ‘ participar’ é hoje relacionar-se com uma ‘democracia audiovisual’, na qual o real é produzido pelas imagens geradas na mídia”.

Certamente, essas formas de comunicação são resultados do avanço e do desenvolvimento das telecomunicações, das maneiras de se relacionar e se ligar à teia social. São frutos de uma sociedade voltada para o mundo on-line e que não há perspectivas de se desvencilhar dele, pelo menos num futuro próximo. O que se discute, no entanto, é como as pessoas correm o risco de perder a noção do que é particular num meio que incentiva cada vez mais o tornar-se público.

Canclini questiona, em determinados pontos da sua obra, a questão entre o compartilhado e o particular, e argumenta: “a urbanização predominante nas sociedades contemporâneas, se entrelaça com a serialização e o anonimato na produção com reestruturações da comunicação imaterial que modificam os vínculos entre o privado e o público”. O que era pra ser privado, sem querer se torna público, seja uma compra, um passeio, uma ida a locadora. As pessoas encontram-se tão isoladas nas suas casas, nos seus redutos casa-trabalho, que estão perdendo o convívio e todo e qualquer encontro serve de pretexto para saber um pouco da vida alheia, ou ainda, de certa forma tentar interagir com ela, pensar que você sabe e conhece fulano, apenas pelo fato de vê-lo saindo de casa com beltrano. Todas essas atitudes surgem em função da necessidade de interação que o ser humano tem, mesmo que ela não seja feita de forma tradicional, ou seja, pessoalmente.

Para quem gostou do assunto e deseja aprofundá-lo, fica a sugestão de leitura. O estudioso debate assuntos relacionados à cultura e sociedade da América Latina. A obra chama-se “Culturas Híbridas” e o autor Nestor Garcia Canclini.

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