quarta-feira, 24 de junho de 2009

Dalton Trevisan – o “vampiro de Curitiba”

Claudiana Soerensen, Mestre em Estudos Literários pela UFPR, Especialista em História do Brasil, Graduada em História e em Letras.


Flagrado no último mês de agosto andando pelas ruas curitibanas, Dalton Trevisan aparenta boa saúde aos 83 anos idade. O "vampiro de Curitiba”, apelido desde 1965 – data da publicação do livro homônimo, não concede entrevistas há quase 30 anos. A distância da mídia, porém, não é senão uma escolha, já que Dalton mantém-se saudável, resultado de caminhadas diárias e alimentação disciplinada, dizem os amigos. O escritor dispensa carne vermelha, ironia no caso de um autor tratado como "vampiro". Prefere saladas, frutas, grãos e alguma carne branca. Cardápio conciso para ajudar a alimentar seus contos.

Dalton Jérson Trevisan, curitibano nascido em 1925, sempre foi avesso à imprensa, criando uma atmosfera de mistério em torno de seu nome. Não dá entrevistas nem gosta de ser fotografado. Assina apenas "D. Trevis" e não recebe a visita de estranhos. "Ele não faz isso por mal. O Dalton gosta de ficar na dele pois é contra a autopromoção", diz o diretor teatral João Luiz Fiani, responsável por cinco montagens teatrais de contos de Trevisan. Além da aversão à imprensa, Dalton também costuma mudar seu itinerário pelas ruas de Curitiba para não ser reconhecido durante caminhadas, compras e visitas a cafés e livrarias.

Observador e escritor incansável, fidelíssimo ao conto, elabora até a exaustão e com economia absoluta, “chuvinha renitente e criadeira”, suas histórias. Dalton Trevisan coloca em seus enredos, a capital paranaense e as gentes curitibanas ("curitibocas", vergasta-as com chibata impiedosa), com independência solene e temperamento singular. Em seus contos, realiza a construção e a dissecação da supra-realidade de luas, crianças, amantes, velhos, cachorros e vampiros. E polaquinhas, como em seu único romance publicado.

Quando era estudante de Direito (cursou a graduação na atual Universidade Federal do Paraná), Trevisan costumava lançar seus contos em modestos folhetos. Em 1945 lançou o livro "Sonata ao Luar" e, no ano seguinte, publicou "Sete Anos de Pastor". Mas ele renega os dois e não os inclui na sua bibliografia.

Ainda na década de 1940 (1946 a 1948) editou a revista "Joaquim" por dois anos. O nome, segundo ele, era "uma homenagem a todos os Joaquins do Brasil". A publicação tornou-se porta-voz de uma geração de escritores, críticos e poetas. Reunia ensaios assinados por Antonio Cândido, Mario de Andrade e Otto Maria Carpeaux e poemas até então inéditos, como "O Caso do Vestido", de Carlos Drummond de Andrade. A revista também trazia traduções de Joyce, Proust, Kafka, Sartre e Gide e era ilustrada por artistas como Poty, Di Cavalcanti e Heitor dos Prazeres.

Em 2003, Dalton foi agraciado com o Prêmio Telecom. Com a obra “Pico na veia” dividiu o primeiro lugar com o jornalista brasileiro Bernardo Carvalho. O livro é uma coletânea de duzentos contos curtos que apresentam os temas recorrentes de Dalton Trevisan: os desastres do amor, os infernos particulares, a guerra dos sexos, cenas da vida cotidiana e da condição humana. Um retrato da realidade do Brasil de hoje construído com ironia e humor.

Dalton Trevisan mais uma vez deu uma lição de estética literária com um bilhete curto, direto e definitivo, assim como o estilo de seus contos. Foi na entrega do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2007 em que Trevisan ficou com o segundo lugar e recebeu R$ 35 mil. O primeiro prêmio foi para angolano Gonçalo Tavares, com "Jerusalém" (R$ 100 mil para ele). A atração da noite e o que realmente prevaleceu foi a seguinte mensagem enviada por Dalton: "Só a obra interessa. O autor não vale o personagem. O conto é sempre melhor que o contista. Vampiro sim, de almas. Espião de corações solitários, escorpião de bote armado. Eis o contista. Só invente o vampiro que exista. Com sorte, você adivinha o que não sabe. Para escrever mil novos contos, a vida inteira é curta. Uma história nunca termina. Ela continua depois de você. Um escritor nunca se realiza. A obra é sempre inferior aos sonhos. Fazendo as contas percebe que negou o sonho, traiu a obra, cambiou a vida por nada. O melhor conto só se escreve com tua mão torta, teu avesso, teu coração danado. Todas as histórias, a mesma história, uma nova história. O conto não tem mais fim senão começo. Quem me dera o estilo do suicida em seu último bilhete.”

Ainda refletindo palavras do “vampiro de Curitiba”, escutemos atrás das portas para aprimorarmos nossa vivência: "O que não me contam, eu escuto atrás das portas. O que não sei, adivinho e, com sorte, você adivinha sempre o que, cedo ou tarde, acaba acontecendo."

2 comentários:

Deisily de Quadros disse...

Será que já nos deparamos com o querido vampiro pelas ruas de Curitiba e nem nos demos conta?
Beijo!

Unknown disse...

Occasum

Autor: Orácio Felipe
Descrição :
Johann é imortal. Mas a imortalidade carrega consigo muitas angústias. A maior delas, a falta de um amor que a acompanhe. Ele buscava, como criatura das trevas, uma companheira que pudesse transformar. Ele buscava um antídoto e havia conquistado alguma força compondo poesias, admiradas tanto pelos seus criados, Igor e Fredy, quanto por aqueles que o perseguiam. Seus buquês de palavras, como costumava chamar, eram entregues àquelas que admirava. Mas havia uma única rosa em seu caminho, para a qual ele passaria a dedicar sua existência, que não era efêmera. Um vampiro buscando extinguir sua chama assassina através do amor de uma mulher.

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