quarta-feira, 24 de junho de 2009

O contexto social da segunda geração modernista

Claudiana Soerensen, Mestre em Estudos Literários pela UFPR, Especialista em História do Brasil, Graduada em História e em Letras.


O Modernismo representou uma ruptura profunda com os padrões artísticos da escola literária anterior, o Simbolismo. Inspirado pelas vanguardas européias no início do século XX, o Modernismo no Brasil inovou os temas e a linguagem das obras ao mesmo tempo em que afirmou nossa identidade. Sem idealizações, valorizou nossa cultura e denunciou nossas mazelas de modo contundente.

Dividido didaticamente em suas três gerações, o Modernismo brasileiro proporcionou novas perguntas e novas respostas para as grandes questões humanas. Produziu, também, algumas das melhores obras da nossa literatura, estimulado pelo contexto social turbulento. A primeira geração da poesia, a do nacionalismo crítico, a qual promovia a releitura do passado histórico do Brasil, é superada, e os autores da segunda geração passam-se dedicar à reflexão sobre o mundo contemporâneo, usando todos os recursos à disposição da criação poética, aproveitando as conquistas da primeira geração e outras ferramentas relacionadas à forma.

Pode-se dizer que durante certo tempo, a poesia das primeira e segunda gerações (de 1922 e 1930) conviveram. Não se trata, portanto, de uma sucessão brusca. A maioria dos poetas de 30 absorveria parte da experiência de 22: liberdade temática, gosto pela expressão atualizada ou inventiva, verso livre, anti-academicismo.

A poesia persegue a tarefa de purificação de meios e formas iniciada com a geração anterior, ampliando a temática na direção da inquietação filosófica e religiosa, com Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, ao tempo em que a prosa alargava a sua área de interesse para incluir preocupações novas de ordem política, social e econômica, humana e espiritual. Ao jocoso e ao irônico sucedeu a gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Uma geração grave, preocupada com o destino do homem e com as dores do mundo, pelos quais se considerava responsável, deu à época uma atividade excepcional.

A Segunda Guerra Mundial deixou como legado mais do que ruínas de cidades arrasadas por bombardeios. Ela obrigou a enfrentar a barbárie humana e a reconhecer que o preconceito e desejo desmedido pelo poder podem levar à perda de milhões de vidas. Em 1944, escreve Drummond: “Meus olhos são pequenos para ver / o mundo que se esvai em sujo e sangue”, expondo a reflexão sobre a perversidade de que o ser humano é capaz.

As bombas atômicas lançadas em agosto de 1945 pelos Estados Unidos contra as cidades japonesas de Nagasaki e Hiroxima, revelou a última fronteira da ética havia sido cruzada pela ciência: o ser humano havia descoberto uma forma eficiente de exterminar a própria raça. Assim, criou-se o contexto para que a arte assumisse uma perspectiva mais intimista e procurasse respostas para s muitas dúvidas existenciais desencadeadas por todo esse cenário de horror e de destruição.

A espiritualidade também vive um momento conflituoso, porque torna-se tão difícil compreender Deus – independentemente do nome que receba – quanto compreender a humanidade diante da cruel existência de bombas atômicas e campos de concentração. A análise do ser humano e de suas angústias, o desejo de compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade da qual faz parte são os elementos recorrentes na poesia produzida na década de 1930 e 1940.

Enquanto a primeira geração modernista experimentou uma grande variedade de temas e de técnicas, a segunda é caracterizada por uma produção fortemente social. Assim o contexto sociopolítico define o foco para a poesia desse momento.

A publicação do livro “Alguma Poesia”, em 1930, de Carlos Drummond de Andrade, é considerada a referência do início da poesia da segunda geração do Modernismo brasileiro. Os críticos literários adotam o ano de 1945 como data do fim da poesia dessa geração, embora muitos dos escritores pertencentes a ela continuem a produzir.

Exposto ao pavor de duas grandes guerras, o ser humano vive tempos sombrios até meados do século XX e as indagações são latentes: o que significa estar no mundo? A esperança deve ser depositada nos indivíduos ou projetada na espiritualidade? Refletir sobre o sentido de estar no mundo é a proposta que define o projeto literário da poesia da segunda geração modernista.

2 comentários:

Diermany disse...

Oi

Muito bom seu texto, mas eu preciso saber por que a desilusão e o pessimismo definem a poesia da segunda geração modernista.

Obrigado

Unknown disse...

Porque a poesia reprimida por meio da intercepção da cultura nacional reflete uma nação contemporanea em meio ao mundo banalisado pela luxuria e pela proesa dos brasileiros a fazerem da poesia o analfabetismo.