terça-feira, 3 de março de 2009

Piaf - o ‘grande’ pássaro francês

Geórgia Pereira, Acadêmica de Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina - UEL.


Franzina, tímida, com olhar desconfiado, cabelos curtos e desajeitados, trajando roupas escuras, sapatilhas gastas, mas com ar de moleca divertida. Assim foi Edith Giovanna Gassion, uma adolescente que perambulava pelas ruas de Paris no final da década de 20. De origem pobre, a jovem fazia uso da voz para ganhar alguns trocados e ter o que comer no dia seguinte. Mas o destino mudou.

De cantora de rua a ícone dos palcos, Edith tornou-se uma grande personalidade da música francesa nos anos 40 e 50. Sua história foi retratada no filme “Piaf – um hino de amor” (2007), estrelado pela atriz Marion Cotillard, que ganhou o Oscar em 2008 por essa interpretação, e dirigido por Olivier Dahan.

A obra é uma biografia musical que narra a trajetória de Edith. A trama foi construída de modo cronológico, porém, em alguns momentos, ocorre a quebra da linearidade pela inserção de cenas do futuro da vida da cantora (recurso denominado “flashfoward”), tornando a narrativa atraente e bem amarrada.

Os primeiros passos do símbolo da música francesa são incertos e impregnados de dificuldades. Edith Gassion nasceu em Paris, em 1915. Maltratada pela mãe alcoólatra que também cantava nas ruas da cidade, durante um período ela foi criada pela avó paterna dentro de um bordel do qual era proprietária. A menina vira o centro das atenções das mulheres que trabalhavam no local e tem uma relação carinhosa com Tinini, uma das jovens do bordel. As cenas com as duas são singelas e bonitas, numa relação maternal, coisa que a pequena francesa não teve com sua mãe biológica.

Tempos depois, o pai que havia deixado a pequena com a avó, volta para buscá-la e leva a menina para ajudá-lo no circo, onde ele trabalhava. Após um desentendimento com o patrão, o pai pede demissão do circo. Os dois vão parar na rua e tentam sobreviver com pequenas apresentações. A carência de recursos financeiros e uma vida sofrida, com falta de carinho e atenção constroem a vida da pequena parisiense.

E em um dos momentos de necessidade, em que o pai obriga Piaf a fazer alguma graça para agradar o público, a menina solta a voz timidamente, mas descobre que dentro de si existe o poder de cantar. A cena é comovente com traços de um momento epifânico para a menina.

Depois disso, o filme salta para seu dia-a-dia como cantora de rua na capital francesa, até ser descoberta por Louis Leplée, dono de uma casa de shows, que dá direção à vida da artista. É 1935 e Leplée a batiza de "la Môme Piaf", uma expressão francesa que significa "pequeno pardal" ou "pardalzinho", pois ela tinha uma estatura baixa (1m 48). Daí o título em francês “La Môme”.

Um dos pontos marcantes do filme é o romance da cantora com o conterrâneo boxeador. Em uma turnê em Nova Iorque, em 1948, conhece o pugilista francês Marcel Cerdan, com quem inicia um tórrido romance. Marcel vivia no Marrocos e morreu em acidente de avião em 28 de outubro de 1949 em um vôo de Paris para Nova Iorque, onde a iria reencontrar. Arrasada pelo sofrimento, Piaf aplica-se fortes doses de morfina. Seus grandes sucessos “Hymne à l'amour” e “Mon Dieu” foram cantados em memória desse amor. Marcel Cerdan é tido como o grande amor da sua vida.

Uma das marcas de Edith Piaf era o estilo incisivo e determinado para a escolha de músicas. Mudava de humor com facilidade, ficava irritada com qualquer detalhe que contrariasse sua vontade para a realização dos seus espetáculos e constantemente atuava sob o efeito da bebida e das injeções de analgésico que se tornaram seu vício. Mas nada disso impedia o seu desempenho no palco, a não ser no final de sua carreira, quando já estava debilitada e sofria de pequenos desmaios. Edith Piaf era teimosa, sem meias palavras, traços que intensificavam sua personalidade conflitante.

Mergulhada no sucesso, perdida entre amores e paixões, com uma vida de luxo e prazeres, além de uma conduta desregrada com direito a drogas e álcool, a parisiense Edith Piaf desfrutou de uma vida sem limites, o que a tornou extremamente efêmera. Morreu aos 47 anos, deixando um legado para a história da música francesa que se disseminou pelo mundo.

Aos apaixonados por filmes biográficos, Piaf – um hino de amor é emocionante. Aos amantes da música francesa a trama contagia e aos namorados do cinema a história é imperdível!

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